"ARTIGO PUBLICADO SOBRE AL PACINO"


 

    23/11/2007 - O Advogado e Escritor renomado em alagoas, Membro da Academia Alagoana de Letras Dr. Carlos Méro escreveu este artigo a respeito da perda de Al Pacino, ao qual agradecemos a enorme sensibilidade e espírito de solidariedade ao escrever este artigo publicado no Jornal de Alagoas.

 

MORTE EM SAN JUAN 

 

Além da precocidade com que tivera inaugurada a sua carreira de campeão,

fora Bob de mesmo impulsado pela carrada de bons predicados com que a natureza o abençoara.” 

 

Carlos Méro

da Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas

www.carlosmero.com.br

             A se tirar por sua curta idade, seria difícil acreditar no rosário de competições em que se distinguira e muito mais ainda na vasta fieira de vitórias e de títulos que garbosamente ostentava.

            O fato, porém, é que além da precocidade com que tivera inaugurada a sua carreira de campeão, fora ele de mesmo impulsado por uma carrada de bons predicados com que a natureza o abençoara.

            Talhe de rara imponência, presença de singular elegância, temperamento de sedutora mansidão, senso de disciplina quando pouco edificante, Bob, como era chamado, induvidosamente nascera com a vocação do triunfo.

            Mas ninguém tem dúvidas de que a vida teima em nos pregar peças e nisso de quando em vez nos surpreende com armadilhas estúpidas e em certos casos funestas.

            Certamente que isso não lhe passou pela cabeça (mesmo porque não tinha cabeça para matutar sobre os caprichos da malvadez) quando se viu acomodado no ventre de um avião e só voltou a pisar o chão em San Juan de Porto Rico, onde haveria de enfrentar mais um daqueles torneios a que desde muito se habituara.

            E tudo vinha se passando muito e muito bem, até o infausto momento em que (por incrível que pareça em frente ao local em que teria palco o evento) deu-se ele conta de que um sujeito mal-encarado (ainda com uma pistola na mão) substituíra o motorista do veículo em que era conduzido, enterrou o pé no acelerador, fez o carro partir desembestado e tomou um destino que Bob, nem de longe, poderia pressentir.

            Não se tem notícia da razão do súbito desencanto, receio ou talvez capricho que, logo mais, tomou conta do delinqüente, a ponto de fazê-lo abandonar o carro em um lugar ermo qualquer, sob um sol impiedoso e sem uma brecha que desse boas-vindas a um só sopro de ar, cela da morte em que deixou enclausurado o desditoso Bob, dócil cão Labrador que, embora brasileiro, atendia pelo pomposo nome de Al Pacino Summer Storm, fosse ou não fosse ele um renomado campeão.

            Desnorteia, porém, a consciência de que o homem, hoje como ontem, uma vez triturado pelo infortúnio, esmagado pelas injustiças, asfixiado pelas ambições ou empurrado pelos alvoroços que lhe possam infernizar o mundo interior, por vezes se deslembra da sua humanidade ou a deixa pura e simplesmente se apagar, tornando-se, enfim, muito mais feroz predador que o mais bravio dos irracionais.

            É muito certo que se não trata de enfermidade social nova, havendo até quem afirme que a violência é patologia inevitável no universo das tramas intersubjetivas, explodindo, ali ou aqui, ao empurrão de determinantes nem sempre robustamente explicadas.

            O que assusta, contudo, é ver que o homem, apesar de o bastante inteligente para construir avanços tecnológicos pasmosos e até mesmo para manipular a natureza, não encontrou engenho e arte, pelo menos até hoje, para se aprimorar a si mesmo.

 

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